domingo, 23 de novembro de 2008

Lágrima do Cavaleiro

Recomenda-se a leitura deste e deste texto para uma melhor compreenção da história.

Para ler ouvindo: O som da Chuva

Lágrimas do Cavaleiro antonisp

O dia quente de verão ilumina tudo, torna o céu e o mar um grande painel, calor agradável para um banho de mar que está calmo com suas ondas em movimentos monótonos em direção a praia. Tudo seria muito tranqüilo não fosse por um ponto vermelho boiando no mar, logo vemos, não é apenas um, e sim o começo de uma mancha vermelha que cobre boa parte da praia.

Guerra.
Exércitos se encontram em um confronto sangrento, já estamos em batalha adiantada, toda a estratégia se foi. Toda a inteligência se foi. Agora o sangue escorre misturado ao suor e a água do mar.

Temos dois exércitos, Vamos encontrar os bárbaros que querem apenas tudo dominar e os homens destemidos que pretendem voltar para uma pátria e para suas amadas.

Entre este último grupo encontramos o Cavaleiro Azul. Ele é o seu líder e está preocupado, mesmo com toda estratégia usada no começo da batalha.

A quantidade de inimigos é muito grande, como toda a estratégia se foi, temos (apenas) braço contra braço (corpo a corpo), não há mais cavalos, não há mais lanças, apenas homens se batendo uns contra os outros.

Entre estes homens o Capitão – o segundo em comando - em sua conversa prévia com o Cavaleiro ficou acertado que um sinal tiraria seus homens daquele lugar; O capitão se pergunta como ele fará isso com tantos inimigos ao redor. Na realidade nem mesmo o Cavaleiro sabe como salvar seus homens, ele vai apenas seguir seus instintos.
- Formem um circulo! – Esbravejava o Cavaleiro balançando sobre sua cabeça a Alma do Céu, nome de sua espada, seu extensão como guerreiro.
    - Vocês ouviram o cavaleiro – Apoiou o Capitão, já se colocando no circulo.

Ao contrario do que poderia parecer o Cavaleiro não ficou no circulo e sim dentro dele.

Os inimigos bárbaros estavam cada vez mais violentos. Dentro do circulo o cavaleiro puxava alguns homens, os mais forte. Por um momento o Capitão até pensou que o cavaleiro estava tentando se proteger, mas foi só até ver a movimentação.

O Capitão sentiu um arrepio estranho ao ver o Cavaleiro Azul ser arremessado para fora do circulo como uma bola de canhão, os inimigos são tantos que o cavaleiro sequer cai no chão e já começa a ser atacado, os bárbaros sabiam que ele era o líder, afinal a única armadura azul era a dele.

E aqui começa o futuro, sem usar o cérebro, apenas os músculos o cavaleiro começa a balançar a sua espada e a ceifar vidas e decepar cabaças, a luta é tão violenta que o Cavaleiro anda sobre os corpos dos inimigos.

As chances não mudaram para o Cavaleiro, o exercito inimigo ainda é mais de 30 vezes maior. O Cavaleiro não se recorda de uma luta tão violenta. Eventualmente ele é atingido, mas a armadura consegue segurar os golpes, ao menos até agora.

Um bárbaro arremessa um machado em direção ao Cavaleiro, impacto direto. Neste mesmo momento o Capitão tenta levar os homens em direção ao cavaleiro, mas não consegue são muitos inimigos, parece que saem da terra, alem do mais todos estão molhados, pesados, exaustos.

O machado não derrubou o Cavaleiro, mas tirou seu elmo, o cavaleiro sente o sol em sua barba e como um animal selvagem ferido se lança com mais violência contra o inimigo, mas com menos cuidado também.

As partes da armadura do cavaleiro começam a cair uma a uma, já com o peito nu, ficam a mostra as tatuagens que cobrem quase todo o tronco do cavaleiro, mas estas imagens não ficam a mostrar por muito tempo, pois em poucos segundos seu corpo já está todo coberto se sangue, a maior parte dos inimigos é verdade.

O Cavaleiro Azul é um guerreiro sagrado, um homem de fé, sempre foi. Neste momento ele começa a se questionar se vai mesmo conseguir cumprir a promessa feita ao Capitão.

Uma lágrima escorre do rosto do Cavaleiro, ato que não fica claro, pois mesmo com o dia que se fazia muito claro a praia é invadida de uma chuva torrencial.

A espada está pesando em sua mão o cavaleiro não conseguirá segura-la por muito tempo.

- E agora? - Se pergunta o Cavaleiro.

Como que respondendo a sua pergunta. Do céu um raio acerta em cheio a Alma do Céu, todos os soldados sem exceção são lançados ao chão.

- Retirada – Grita o Capitão, se levantando, afinal não existe sinal mais evidente do que este.

E com este grito, os corajosos correm.

Mas não é simples assim, os bárbaros estão se levantando e vão se reorganizar em segundos. E se não na praia, vão encontrar os homens na floresta ou mais adiante, é apenas uma questão de tempo, fugir apenas retardara um próximo confronto.

O os homens correndo em direção a floresta não conseguem ver a cena mais importante desta batalha.

O Cavaleiro Azul nu, todo coberto de sangue agora só tem os punhos para se defender, vai atacar os homens que ainda estão no chão, mas não, ele não chega a levar adiante sua idéia.

Outro raio, desta vez no peito do Cavaleiro. O Capitão por estar de costas para a praia sente apenas seu corpo ser lançado para frente, e se lembra do que o cavaleiro disse no dia anterior:
“- Aconteça o que acontecer, não parem, estarei com vocês no futuro.”

De costas o capitão houve apenas os gritos e não pode ver o que está acontecendo, ele coordena a retirada, quer tirar o máximo de homens desta praia. O que ele não vê é uma transformação.

Quando o clarão do raio se dissipa podemos ver aquele que antes era o Cavaleiro Azul agora está transformado em um urso enorme, com o pelo azul, como um céu de um dia claro, no entanto as ações do urso são muito mais parecidas com a tempestade que assola a praia neste momento, sangue, sal e areia, por todo lado,

Correndo o Capitão ouve um estranho galope que faz a terra tremer, mas continua seguindo as suas ordens.

Urso Azul um animal irracional com patas que parecem de aço, e pelo muito espesso, não demora colocar tudo isso a prova, os inimigos são arremessados para todos os lados, alguns perdem partes de seu corpo com os movimentos bruscos do Urso. Ele galopa pela praia dizimando os inimigos, espalhando homens, água e areia, nenhuma espada pode feri-lo, nada pode fazê-lo parar, em minutos a batalha está terminada.

Um urro mais forte faz a chuva parar da mesma forma que começou.
Tudo esta de volta a seu lugar?

O Capitão e seus homens já estão bem longe na floresta, o Urso Azul entra na floresta também, mas em outra direção, ele quer apenas descansar.

No acampamento aquela noite o Capitão ouve do soldado que enviou para espionar a práia, que não houve sobreviventes, nas palavras do soldado, fora uma ira divina que assolou a praia.
- Onde estará o Cavaleiro Azul?

O quê o Capitão não sabe é que aquele Urso Azul está se transformando de novo, mas não é no Cavaleiro Azul...

-----------------------------------------------------------------------------------------------------

Termina-se este texto com o som de Matamorfose Ambulante: Raul Seixas.

Este é o terceiro “Episódio” de uma série que começou aqui, mas que vive no meu blog.

No próximo episódio.

Um menino tatuado, uma Coruja Branca.e um Guerreiro de Fé.

Obrigado a Carol Marzagão pela força e ao Roger que praticamente participou do processo criativo.

Foto: AntonisP

Um comentário:

ROGÉRIO FERREIRA disse...

Confesso que a primeira leitura foi muito dificil, talvez a busca por significados e significantes, tenha me tirado a interpretação das entrelinhas... Mas como me dito talvez tenha lido de forma prática, fato que revela minha atual posição na vida! Praticidade

Porem, apos a terceira e quarta releitura, alguns fatos implicitos me levam a conversas longas a caminho de Mogi e as transformações que não pertinentes apenas ao Cavaleiro!

Bom, texto!
Parabens mais uma vez