A maldade existe. Infame. Injusta. A maldade persiste.
Naquele canto sujo da cidade, àquela hora da madrugada, é claro que não poderia acontecer algo bom. As más intenções são como o vapor que sobe das tampas dos bueiros quando a noite esfria.
Ela caminha. A passada ilustra o medo. Apressada. E ela caminha. Rumo incerto à destino algum..
A uma esquina dali, ele observa toda a ação. Lacaio imundo. Mente perturbada pelas drogas. Disposição para matar. Disposição para morrer.
Ela se aproxima cada vez mais.
Ele aguarda. Ansioso pelo bote.
10. 5 metros. Ele já está em posição de ataque. Que tal se eu me juntar a brincadeira?
Com um salto, deixo o telhado sobre o qual eu me esgueirava. Surpreendido, o meliante deixa cair sua arma. A moça foge, assustada. Com um soco, o derrubo para trás, perto o suficiente para que ele role e alcance sua arma. Com agilidade surpreendente, ele faz um giro e mira em minha cabeça. Displicente, faz pouco caso da situação:
- É você, não? – diz com indício de sorriso no rosto
- Depende.
- Você, é aquele cara que ta assustando todo mundo por aí. O Fantasma. É você não é não?
- Se você quer acreditar que sim. Mas Fantasma já tem dono, eu prefiro Pastor.
- Pastor? Cara, isso ai não mete medo em ninguém. – A cada palavra ele dá um passo em minha direção. Um erro primário. Com um movimento rápido eu consigo dar um chute em seu pulso e ele solta a arma novamente. Dessa vez eu me adianto, pisando em cima do revólver. Abaixo-me calmamente para analisá-lo. É uma SIG P220. Uma arma bem decente para um ladrãozinho imundo como esse. É óbvio que alguém mais poderoso está municiando a ralé da cidade. E é óbvio também que eu estou começando a incomodar. Ótimo.
Ao invés de estar apavorado, o vagabundo sorria ainda mais, como que inebriado de adrenalina. A mente insana funciona de maneira assustadora.
- HA HA HA HA HA HA HÁ! O Pastor me pegou! Que medo! E agora, você vai ler um trecho da Bíblia e me levar para o inferno?
- Pessoalmente não. Mas eu conheço um atalho. – Lentamente puxo Rita, minha Magnum 44, do coldre. Mas antes que pudesse fazer o disparo, o ladrão saca uma arma escondida na meia e dispara algumas vezes. Sinceramente, ainda não me acostumei com os tiros. As balas não me perfuram, óbvio, mas mesmo assim eu sinto uma dor irritante, algo parecido com a picada de uma vespa, só que mais forte. E isso me irrita bastante.
Ao ver os projéteis caindo após baterem em meu corpo, finalmente ele enxerga a realidade. E a realidade assusta. Tremendo, larga a arma e cai de joelhos.
- Meu Deus! – Exclama
- Tente de novo.
O estampido de Rita cala qualquer tipo de lamento por parte do ladrão. Seu caso está encerrado. Sorte dele. O meu está longe de ter fim.
A esperança existe. Incompreensível. Inexplicável. A esperança persiste.
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