domingo, 23 de dezembro de 2007

Hércules, ou não.

Para Ler Ouvindo: Balada do Louco - Os Mutantes

Tempo

Pé ante pé, ele corre e grita, olha ao redor, respira fundo e percorre imensos corredores, formando pegadas que não são solúveis, com outros pés que não os seus. Se choca contra prédios que são destruídos, salta como um deus, cai como uma criança. Vê como uma águia, escuta como tuberculosa. Se transforma em carro e “voa” na estrada, se confunde com o firmamento. Chora com tanta propriedade que faz chover. O seu sangue é tão vermelho, que tingiu as rosas. É fraco, é triste, é forte, é feliz, é mulher, é homem, é parte, e todo, é Deus, é Diabo, é guia, é perdida. É fato. Mãos tão grandes que parecem escavadeiras, se enterram no solo e removem porções hercúleas de terra, mais lagrimas transformam tudo em lago, o sorriso trás o sol que faz a alegria das crianças. Ela corre e grita. Grita, seu grito, é tão alto grito que anula o som ao redor, tão forte que é mudo, quando ela grita nada se ouve, nem mesmo seu grito. Quando não há o que fazer ela voa, olha ao redor, mas ver dói, seus olhos sangram escorrem, se transformam um vendaval, maldita natureza que não o deixa em paz. Ele não quer mais ser escravo das leis, quer ser forte, quer ser um entre tantos, ser tão forte a torna tão fraca, bendita franqueza torna os normais tão fortes. Um dia talvez seja possível ser, e tão somente ser, e não depender do Ser para que seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu.

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Para provar que eu não abandonei o blog (kkk) estou aqui para fazer uma proposta.

1º sarau do Três!

Data a ser definida entre o fim de janeiro e começo de fevereiro de 2008.

Mas este sarau não é exclusividade dos Três, pois, o convite se estende aos conviodados e as pessoas que gostam de ler o nosso blog.

Aguardem.

foto: Márcio Brigo

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A unha está crescendo

*texto escrito por Gabriel Vendramini, convidado da vez.

A unha está crescendo, o cabelo também. Odores corporais estão vencendo, olhos ficando cheio de remela. Meia que estava no pé esquerdo saiu e foi parar atrás da cama, os pêlos da barba começam a encravar no rosto à medida que os segundos vão passando.

O celular está ao lado, em cima de um velho suporte onde você costumava apoiar a sua TV, ele foi programado para despertar daqui algumas horas, já que você não consegue acordar sem essa merda de toque escandaloso. A TV? Você não assistia mesmo, foi parar lá na cozinha. Logo ali, mais ao lado, está seu mundinho, sua bagunça. Você olha pra sua escrivaninha e promete todo dia a si que vai arrumar aquilo. Você faz? Ah, faz...Olha a formiga dentro do papel de Milkybar que você comeu há 2 semanas rindo de você. Seu computador está ligado à internet à noite inteira, como se fosse um servidor, um storage, acervo ilegal de mp3’s, filmes e seriados. Depois do segundo mês você parou de se importar com a conta de energia. Um ventilador quebrado, uma porta com maçaneta quebrada, onde foi parar a chave do cadeado da janela? E tinha um cadeado? E já houve maçaneta nessa porta? Merda de festas, merda de lembranças, merda de pessoas, merda de estado ébrio. Dentro do guarda-roupa, quase um silo, quase um abrigo para refugiados. De acessórios como suspensórios e braceletes a cd’s de jogos que costumava jogar quando tinha lá seus 12 anos. Os instrumentos de maior prazer estão ali no cantinho, no pé da cama. Seu violão que nunca teve marca e nunca teve elegância continua fazendo o mesmo som de 5 anos atrás. A sua primeira guitarra, com braço levemente empenado e trastes completamente gastos, ainda é sua melhor amiga. Roncando por causa da rinite que já foi mais incômoda no passado, dormindo até a hora de se levantar para a rotina de segunda a sábado.

E, de repente, durante a escrita, você tem um lapso, perde a linha do raciocínio e a vontade de escrever. O reflexo no vidro que está em sua frente não mente. Você está com aquela cara de merda olhando para o monitor pensando em como o dia de ontem foi ruim por ter tido que fazer uma horinha extra aqui, outra ali. Pensa nas coisas, se elas valem à pena, se estão valendo à pena, se vão valer num futuro próximo.

Alguém passou roçando rente à porta, pelo som que fez você até sabe que a calça era jeans. Outro que está dando um treinamento a operadores de telemarketing. A concentração é uma coisa engraçada, né? Se eu não tivesse conseguido ler alguns livros durante o curso de minha vida, eu podia jurar que tenho DAA.